terça-feira, 15 de maio de 2012

A filosofia da paz e amor

Na década de 1960, os Estados Unidos começava a vivenciar um momento de transformações advindas de novas mentalidades. Crescia a descrença no modelo econômico e político, questionavam-se os benefícios da sociedade industrial. Uma parcela da população recusava-se a pagar impostos por discordar do destino dado ao dinheiro, jovens resistiam à prestação do serviço militar. Justamente neste contexto de insatisfação, surgiu – especificamente na Califórnia – o movimento hippie, que materializava as características da contracultura.

Os hippies formavam um mundo à parte, colorido ao gosto deles. Diferenciavam-se dos outros pela aparência: cabelos agressivamente compridos e roupas exóticas. Seus protestos eram pacíficos, as manifestações tinham slogans alegres e possuíam o hábito nada comum de distribuir flores durantes as passeatas. A conduta hippie se fundamentava numa filosofia de “Paz e Amor”.
Adeptos de um modo de vida comunitário queriam viver perto da natureza e procuravam organizar comunidades agrícolas baseadas no trabalho manual. Respeitavam as questões ambientais, a emancipação sexual e a prática do nudismo. Simpatizavam com religiões orientais como o budismo e o hinduísmo. Opunham-se à Guerra do Vietnã, ao nacionalismo, ao patriarcalismo, ao militarismo, ao poder governamental, ao capitalismo, às corporações industriais, à massificação, ao autoritarismo e aos valores que, segundo sua concepção, eram ilegítimos.

O misticismo, o psicodelismo e as drogas justificavam a oposição ao racionalismo. Tinham três eixos de movimentação: da cidade para o campo, da família para a vida em comunidade e do racionalismo cientificista para os mistérios e as descobertas das coisas místicas.

Em seu auge, bairros e avenidas tornaram-se centros de hippismo. Haight-Ashbury (em São Francisco), Sunset Boulervad (em Los Angeles), Old Town (em Chicago) ou East Village (em Nova York), além de Londres e Amsterdã e outras cidades marcadas pelo exotismo como Katmandu, Marrakesh e Cuzco são bons exemplos.

O ano de 1967 foi marcante. Em São Francisco, palavras de ordem como “os hippies morreram! Viva os homens livres!” acompanharam a cremação de um caixão, representando o enterro simbólico do movimento hippie. Também ocorreu nesta época a fundação do YIP (Partido Internacional da Juventude). Surgia assim, a figura do yippie – o hippie politizado – convergindo os projetos de revolução cultural e política.

Em 1970, parte das características hippies havia sido incorporada na cultura principal. Entretanto, a grande imprensa perdera o interesse pelo movimento, ainda que alguns tivessem intíma ligação com a mídia. Além disso, como evitassem a publicidade, chegou-se a cogitar o fim da era hippie.

No Brasil, a introdução do hippismo, bem como a contracultura num todo, coincidiu com o período ditatorial, travado por fortes rivalidades políticas e ideológicas. O governo tentou impedir a liberação dos costumes através da censura e da repressão.

De fato, a cultura (ou contracultura) hippie perdeu muitos de seus adeptos e valores originais. O movimento minguou à medida que, os ideais libertários foram transformados em mercadoria pela indústria cultural. Mesmo assim, ainda existem grupos que seguem os preceitos do hippismo. Geralmente, eles estão espalhados em praias e comunidades alternativas, a exemplo das cidades brasileiras de São Tomé das Letras em Minas Gerais, Trancoso na Bahia e Pirenópolis em Goiás. Às vezes, estes reminiscentes se encontram para celebrar a vida e o amor em festivais e reuniões da “família arco-íris”. Para dimensionar a força e a importância do rock no cenário hippie, o cantor Raul Seixas e a banda Os Mutantes são citáveis.

Em Goiânia, a Feira Hippie nasceu no ápice do movimento, com o propósito de expor as peças artesanais produzidas pelos hippies. Porém, ela se tornou um ambiente meramente comercial e, hoje, de hippie, só mesmo o nome da feira.

Apesar da desintegração dos hippies enquanto organização embasada na luta contra o sistema, é considerável o legado deixado por eles. Os protestos ambientais, a liberação dos costumes, o nudismo, o vegetarianismo, o estilo despojado, entre outros, sempre remetem ao hippismo. Aliás, o que todos procuram senão Paz e Amor?

Fonte:http://jornalsociologico.blogspot.com.br

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